Olhar para as fronteiras tem um efeito mágico sobre as pessoas. Quaisquer fronteiras. A que mais apetece os olhos talvez seja aquela que existe entre o lugar onde pisamos e o mar. Tudo é mais lindo com o mar. Tudo é mais vento com o mar. A gente não precisa dizer nada quando tem o mar pra ver, pra sentir, pra ouvir.  Talvez essa união sinestésica seja o segredo. Ou talvez seja só porque existe em nosso código genético algo que faça a gente querer ser um colibri. O mar é uma fronteira diferente das outras. A gente sabe quando ele tá perto e sabe mais ainda quando é mar e quando não é mar. Mar sim, mar não, me pego com vontade dele.
Mas o fato é que toda vez que eu vou pra perto desse mar eu tenho meu momento numinoso. Eu podia estar lá, vendo as pessoas passando, os senhores fazendo repente, as mulheres bonitas em seus biquinis especialmente comprados pra fazer um bronzeado bonito que atice a libido dos homens que elas amam, ou mesmo pensando em que rumo de vida tomar. Mas tudo isso é um pedaço que eu não lembro quando volto. O único som que escuto é o da onda batendo. A vista que eu tenho é do mar vindo, indo. O pensamento fica ali retido como que num encanto. Todo mundo pensa assim, será?

Em 2012 tomei 3 banhos de mar. Não gosto da água salgada, mas o que é viver senão se contradizer? Esse foi particularmente bom. A água é morna. O vento não esfria e a areia não acaba. O que mais se pode querer da vida? Eu podia refletir sobre a existência ali. Pensar se Deus existe, pensar na vida, na morte, no ser, no não-ser. Se existe uma mente inteligente que projetou aquele cenário, certamente pensou em como aquilo podia atenuar tudo de ruim que há no caminho. E caso contrário, o acaso que nos trouxe também contribui pra que algo dentro da gente reverencie o que temos.

Sejamos gratos. Sejamos felizes. Na beira do mar.

Ô canoeiro bota rede, bota rede no mar ô canoeiro bota rede no mar.
Pescaria – Dorival Caymmi

Porto de Galinhas