Barcelona.

Cidade Européia, fica no nordeste da Espanha, capital da Catalunha.

Dizem que o nome vem do cidadão que a fundou, um conquistador (se é que a profissão já existiu) de nome “Barca”.  Também achei gente dizendo que a palavra vinha de alguma expressão latina: bacinos….

Mas falar de um lugar que nunca fui não está nos meus planos, eu queria mesmo era falar de lembranças de um lugar de nome parecido: Barcelos.

Eu fiquei horas pesquisando pra entender se os nomes eram similares e se as cidades poderiam ser comparadas de alguma forma. A coisa que deve unir Barcelos e Barcelona é a península ibérica. A Barcelos amazonense, umas boas 6 horas de barco, saindo de Manaus e navegando pelo mais belo trecho de rio que conheço – o rio negro em direção ao arquipélago das anavilhanas, o maior fluvial do mundo – é uma pequena e acolhedora cidade na beira de um belo rio. A importância dela é ter sido a capital do amazonas (até 1758), isso porque tinha um forte lá), e de ser o segundo maior município do mundo. Barcelos ocupa mais de 120 mil Km². Só perde pra Kiev. A cidade em si deve ter pouco mais de 20 mil habitantes e um charme que tento descrever enquanto conto minha história com Barcelos.

Chegar de barco em BarcelosEu deveria ter uns 12 anos quando lembro de ter ido lá a primeira vez.

Pra ajudar a definir minha visão daquele pedaço de lugar, talvez seja importante me lembrar de quem eu era. Vejamos: não muito atlético, não muito brilhante emocionalmente, tato zero com as coisas do mundo em geral, alguma inteligência – muito menos do que achavam que eu tinha, muito mais do que eu aparentava – e talvez nenhuma noção do que era existir socialmente. Acho que eu era bom em criar coisas e, com alguma boa vontade, em parecer fadado a uma vida sem sustos.

Passada a descrição de mim, descrevo o lugar: Barcelos, até onde me lembro das aulas de geografia do Amazonas, foi a primeira capital do estado. E por isso tem casarões e outras construções que possuem a imponência de uma época onde as cidades do beiradão amazônico tinham pujança e abundância. Não só de dinheiro, mas sim de tudo aquilo que o frescor do novo deve proporcionar. Na época que ela surgiu, seus fundadores deveriam imaginar que se tornaria uma metrópole em alguns anos. Um rio lindo na porta de casa, no meio do Amazonas, “perto de tudo”.

Torrado o dinheiro de borracha, pescado e afins, a ex-capital deve ter voltado ao seu estágio quase que inicial. É uma cidade pequenina (não deve chegar a 60000 almas vivas) mas que pulsa e parece ser feliz. E neste lugar, à primeira vista que me lembre importante apenas porque foi locação do filme do joão grilo, tenho ainda amarradas memórias vivas e pensantes.  Minhas primeiras experiências sociais, à vera, aconteceram às margens do Negro. Lembro-me de andar de bicicleta, de uma praça, das pessoas a falar comigo com o genuíno interesse de quem quer expandir sua consciência para o outro, mesmo que isso não seja assim tão profundo quanto pareça ser.

– De onde você é?

– Mas o que mesmo vocês vieram fazer aqui?

E o interior, que tanta gente romanceia, na verdade é cru e seco. Talvez haja como tirar um encantamento da pedra bruta, mas ele está longe de ser unânime. É uma espécie de encontro com o seu eu mais primitivo. As pessoas são amáveis, mas ao mesmo tempo são capazes de qualquer coisa. São simples, mas ao mesmo tempo podem te deixar sem palavras, porque seus filtros são diferentes dos teus, já que nasceste em outro mundo. Os mundos definem tudo o que você acha que é. Neles também. É diferente, mas no fundo é igual, só o cenário e o contexto que mudam.

– Onde você dorme? Porque tá com vergonha?

Eu era só um garoto. E ali garotos ou são homens como aqueles que aprendem a dor de passar fome e ter que trabalhar pra não morrer dela, ou são aqueles garotos que nascidos em berço de ouro não sabem lidar com as coisas da vida real e jogam videogame comendo bolo com guaraná, cortesia avós inc. O mundo é realmente um lugar cruel.

– Vem andar de bicicleta aqui pela avenida que vai dar nos banhos…

Em Barcelos, assim como em vários outros lugares, a vida gira em torno das águas do rio. É sagrado, é profano, é a vida. O sentido da vida qual é mesmo?  Ah, é bacana tomar banho de rio e fazer planos. Planos pra crescer, pra ser feliz, pra ter muitos filhos que possam espalhar alegria. Pra que mesmo?

– Tão novinho, tá bom de ser desvirginado.

O sentido da vida é procriar, é a carne. Do espírito não se cuida, se crê e se espera. Não há brindes e odes ao complexo, ao excesso. O simples é mais importante; o tépido, o equilíbrio é o final e você não deve se deixar levar pelos deslizes. Embora eles ocorram, não há estradas que vão até muito longe. Vai morrer ali, porque dali só se sai de barco ou de avião, pagando muito dinheiro. Acostume-se, sua vida é essa. Ou saia e seja mais um.

– Mas gordo assim você não vai muito longe hein.

No interior é isso: Ou você aprende a lidar com a natureza e com as pessoas que por sorte/acaso lá estão, ou você vai pra capital. Em geral, fale pra ele te levar junto, já que aqui vai ser difícil ficar famoso e ser alguém melhor do que minha mãe ou minha avó.

Não a levei embora porque eu só tinha 11 anos. Poderia ter ficado famosa pelo sorriso e pela sinceridade.

 

crédito das fotos: Douglas, do fórum skycrapercity